Como que eu vou escrever as palavras que estão nas nuvens? Tudo agora me parece um tanto quanto intangível, como se fossem apenas possibilidades que não se ancoram na realidade. E, ao mesmo tempo que isso me causa uma certa angústia, me parece que eu gosto de permanecer nesse espaço de estagnação, uma vez que meu histórico com a possibilidade de sucesso sempre me leva a caminhos nos quais eu acabo me deparando com cinzas e ruínas.
Eu já nem sei mais quantos anos eu estive em modo de sobrevivência, tendo sempre a impressão de que tudo nesse mundo é uma questão de matar ou ser morto, e eu não sei se algum dia eu vou conseguir me livrar dessa ideia. Mesmo com anos de terapia, eu ainda não consigo impedir que essa crença rapte o melhor de mim e o leve para longe de tudo que poderia um dia me trazer qualquer estabilidade. E ainda que eu seja apaixonada pelo conceito de impermanência, existe algo de angustiante na ideia de que eu não consigo permanecer em lugar nenhum.
Confesso que, aos poucos, estou fazendo as pazes com quem eu estou sendo. Embora isso me machuque quando vejo meu comportamento refletido nas minhas relações, a verdade é que eu não posso cobrar dos outros o que eu não consigo oferecer. Talvez seja mais um daqueles momentos meio IV de Espadas, nos quais eu preciso me deitar e descansar e sarar as feridas antes de tentar voltar ao combate — por mais que eu não queira que seja um combate. E tendo em vista que o que me aguarda é o V de Espadas, talvez eu precise de um bom tempo para me preparar para uma rendição.
No fim, por mais que eu sinta que tenho muito a perder ficando aqui, também sinto que tenho muito a perder se eu resolver me levantar e continuar a caminhada. E, mesmo assim, eu não acho que isso é um problema real. É sempre na perda que eu me encontro.
So I'll separate my wants and my fate
I feel lost
You’re in another place, countries away in my heart
Cross Country - Worst Party Ever