Descending

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Existe uma infinidade de universos colapsando dentro de mim; são todas as possibilidades se apresentando como opções viáveis, permitindo que eu me delicie e me angustie com a ilusão da escolha, quando na realidade tenho plena consciência de que a decisão já foi tomada por mim. Tentar resistir é um esforço inútil. E não é nem como se fosse um dilema real, mas não posso evitar de me sentir como se meu espírito estivesse novamente sendo puxado por duas forças opostas. A diferença é que, agora, eu consigo respirar. Eu encontrei águas mais mansas, chuvas mais suaves, ondas que quebram de forma mais harmoniosa. E, mesmo assim, uma parte de mim ainda deseja correr para a tempestade.

Com o tempo, sinto a clareza florescendo, lembrando-me que não estou de fato perdida, e que na realidade eu nunca estive. Eu só não conseguia enxergar—eu me recusava a enxergar—que nada disso é realmente meu, nem mesmo aquilo que acredito estar no meu controle. E eu sei que eu nunca vou conseguir realmente remover as manchas do carpete ou disfarçar as cicatrizes, sei que nunca vou conseguir me livrar das feras que insistem em me encurralar nas noites em que me sinto mais vulnerável, mas eu posso, ao menos, mantê-las alimentadas para que não precisem se alimentar de mim. Eu sei que as chamas sempre vão arder e feridas abertas sempre tenderão a sangrar, e nada disso é realmente um problema contanto que eu me lembre.

O caminho a minha frente me parece incerto e eu ainda me assusto com a possibilidade de confundir sombras de árvores com monstros, bem como gritos de socorro com o simples chamado de algum animal tentando se comunicar com seus pares, mas eu entendo que não tenho escolha a não ser caminhar. Eu passei tempo demais me percebendo como um caso perdido por não confiar na minha própria capacidade de continuar em frente, o que eventualmente se revelou profecia autorrealizável. Agora, no entanto, vejo quanto tempo perdi tentando esquecer partes de mim que, no fundo, só estavam tentando me proteger. O resultado foi uma fragilidade demasiada que quase acabou com a minha vida diversas vezes. Não mais.

Absolutamente nada nesse mundo realmente vale a pena no sentido de trazer um retorno perfeito sobre o que foi investido, mas o suficientemente bom existe e é o bastante. E ainda que eu possa falhar por diversas vezes, eu entendo que isso não faz de mim menos honrável, pois eu sei honrar aqueles que erraram comigo. Eu acredito no amor porque eu sei a forma que eu sou capaz de amar.